O novo tasco camarário, lá para os lados do Gerós, veio mudar a noite SPS. “S. Pedro já mexe”, como diz a parolada. Mas, como escreveu o poeta- e cito de cor – toda a mudança levanta muita merda atrás. Dito, feito. Com a abertura da nova esplanada logo veio gente dizer que era imoral frequentar um espaço que concorre de forma desleal com honestos capitalistas, com espaço aberto a 50 metros. Alguns dizem-me mesmo que aquilo roça a ilegalidade. Acredito. É mentira. Não sei. Ainda não fiz a cadeira de Direito da concorrência e a verdade é que também não me apetece deixar namorada e amigos em nome da legalidade e da res pública. Conclusão: tenho acabado as minhas noites de férias ali à beira-rio, a beber um fino frio(só p’rá rima).
E que dizer do bar do Sousa? Muita coisa. Desde logo, é de louvar que,num bar de concessão laranja,houvesse, ontem, banda cubana a actuar. Mais. Ao chegar, a meio das escadas de acesso, ouvi, num portunhol esforçado, o anuncio da próxima musica, intitulada “´Che Guevara”. Estava dado o mote para uma noite popular. Chegado à esplanada, avisto o agora social democrata Fidel Castro e o PC da família G. (outra bela rima). E a diversidade da fauna só agora começava. Uns finos pedidos e avisto vereadores PS do tempo do Senador Pochette. O troca tintas do director do NL, claro, também lá estava. E no final da noite, ainda se juntou a inevitável polícia. Só faltou mesmo o Silva em representação do MRPP.
Senti-me num jardim zoológico ou num bar onde funcionava o sistema de quotas. O próprio patrão e vereador Sousa, vestindo uma proletária t-shirt e quebrando a regra da imutabilidade do capital e do trabalho, era pau para toda a obra, indo para trás do balcão sempre que o fluxo de clientes aumentava. Adam Smith ficaria orgulhoso se visse tanto antagonismo transformado num mercado a funcionar de forma tão eficiente.
E é mesmo essa a ideia que o bar trespassa: a de um espaço liberal. No sentido clássico. E numa altura em que se fala da necessidade de uma sociedade mais liberal e caótica e onde, localmente, se acusa a câmara de ter um poder tentacular, o novo Bar do Gerós é uma opção política corajosa. O Portugal Moderno será, um dia, assim. Um imenso bar do Gerós. Para ti e para mim.(e não é que rimou outar vez?)