Confesso. A ideia deste post surgiu-me no encadeamento do anterior. Mas sosseguem os fieis de Turquemada. Não se trata aqui de qualquer apologia à raça ariana ou à militarização da mocidade. Para ser sincero, daquelas paradas e festins das imagens anexas, o que me chamou realmente a atenção foi uma outra coisa: as bandeiras.
Além de caciques locais, bombeiros voluntários e clubes de futebol, a organização municipal portuguesa deu-nos também uma imensa panóplia de bandeiras. Seja com castelinhos, corvos, armas ou brasões não há município que não tenha a sua. Desconheço as suas origens. Virá de tempos imemoriais o uso da bandeira como símbolo de uma comunidade política. Sim, porque é de símbolos que se trata. E eu respeito-os. Por isso escrevo Bandeira com maiúscula.
Não se pode exigir a uma Bandeira que seja um elemento de significações muito complexo. Na verdade, ela é apenas um símbolo rude e simplista da comunidade. Uma verdadeira professora primária de valores. Mas se geralmente a Bandeira existe como elemento fundador e agregador, casos existem em ela vem à luz por uma questão meramente utilitária. Várias são situações onde a Bandeira existe por uma necessidade prática (como nas ex-colónias, por exemplo).
No entanto , em épocas mais conturbadas a Bandeira deixa muitas vezes de ser um elemento estático e meramente reflexivo. Alturas há em que a Bandeira vira instrumento de propaganda política, ao ponto de chegar a ter umas merdas escritas(pense-se no “ordem e progresso” inscrito na bandeira canarinha)
A Bandeira não tem uma verdadeira ética ou coerência. Ela é muitas vezes mero instrumento ao serviço dos poderes que trespassam pelas comunidades organizadas. Anda sempre ao sabor dos tempos. Veja-se a nossa Bandeira. Se inicialmente o verde e vermelho tinham origem em simbolismos maçónicos bastou chegar o Dr. De Santa Comba para se inventar aquela lengalenga da esperança e do sangue derramado. A vida segue, a Bandeira fica.
O nosso município também tem uma bela Bandeira. Todos os dias a vejo içada no esguio e comprido estandarte do frontispício municipal. Ao sabor do vento e dos destinos desta terra. Lamentavelmente, desconheço a história e os porquês da nossa Bandeira. Provavelmente terá a história e o atormentado trajecto de tantas e tantas outras bandeiras. Um história muitas vezes errática, de oportunismo e incoerências. Usada por uns e por outros. Ao sabor dos tempos e das necessidades. Uma vida puta. Uma vida de Bandeira.