Diz a tradição de cariz mais idílico que este Portugal é um verdadeiro jardim à beira-mar plantado. Uma bonita imagem, admito. O rosto da Europa, como lhe chamou Pessoa. Um lugarejo verdejante, pleno de harmonia, aberto ao mundo. Nós por cá, numa terra sem mar, parca em jardins e rica em horrores urbanísticos, não nos podemos arrogar de tanto. Mas não desesperemos. A partir de hoje, podemos dizer, em alto e bom som, que somos o concelho da viga à beira-rio plantada. Vocês sabem do que falo: uma obra da Câmara, pedida por ninguém, feita em cima do joelho e que por isso não pode ser agora terminada. Chegada à entrada de S. Pedro, concluiu-se que a viga mestre da obra era demasiada avantajada para passar nas sinuosas ruelas do Bairro do Ponte. E assim, por lá ficou o mamarracho. Danos colaterais? Nem no Iraque. Além de estrada cortada(e eu sábado quero ir à Day) parece que um pobre coitado, que teve a infeliz ideia de morar nas imediações da ponte, terá de começar a pensar, seriamente, em ir viver para debaixo dela. Beneficiados? Muito poucos. Safou-se Negrelos. Com o desvio do trânsito a povoação ganhará novo animo, a nova puta de Vilar admite até mudar de poiso e o Sr Silva pode comprar uma lanchonete ou abrir umas bombas que o negócio está garantido.
Mas a viga não está tão deslocada como à primeira vista pode parecer. A viga tornou-se na melhor metáfora da nossa Câmara. Um Câmara com tendências megalómanas. Que chateia a generalidade dos munícipes mas que lá vai beneficiando meia dúzia. Uma câmara inoperante. Que não ata nem desata. Que não anda nem deixa andar. É assim a nossa Câmara. Uma Câmara Viga.