S. Pedro do Sul ganhou um novo busto que embeleza, agora, uma das suas artérias mais movimentadas. Perdão. Digo melhor: S. Pedro do Sul RECUPEROU um busto que de há uns anos para cá estava destinado a ganhar pó num Salão obscuro da Câmara Municipal. O nome da pessoa imortalizada? António Correia D’Oliveira. É certo e sabido que o poeta nunca teve grande relação com S. Pedro do Sul. Nascido nesta Sintra manhosa, imigrou muito cedo para Lisboa onde trabalhou como jornalista no Diário Ilustrado acabando por vir a falecer em Esposende. Mas, numa terra onde entramos em êxtase quando um brasileiro vindo de Mato Grosso vem estudar a obra teatral de um conterrâneo nosso ou quando esse mesmo conterrâneo vai ao Fatima Lopes e às Noites Marcianas, sentado-se no meio de maricas, dissertar sobre a IP5, não deixo de estranhar que tenhamos relegado um poeta nacionalmente reconhecido para o esquecimento. Perplexo, decido saber um pouco mais acerca da obra do autor. E que descubro? Descubro que o homem era conpincha do Teixeira de Pascoaes, escrevia para a Águia e Seara Nova e que foi voz activa do Movimento Saudosista. O Sr. António D’Oliveira era também um homem cordato, católico, nacionalista e teve sempre uma relação pacífica com o regime.
E Pronto. Chegou-me de pesquisa. Dissipo logo as minhas dúvidas e encontro a explicação para o ostracismo do poeta. O Presidente que então decidiu decapitar o poeta ,ao seu melhor estilo Bonapartista e ainda entranhado do melhor espirito revolucionário(ao que parece foi capitão de abril), , não podia conceber que nesta comuna sampedrense, a sua Plazza Maior tivesse o busto de um poeta nacionalista que nunca arranjou problemas com o Estado Novo. Na sua óptica, não passaria de mais um cabrão de um fascista. Ainda para mais tinha Oliveira no nome. Não enganava ninguém Marretas em riste e toca lá a tirar o facho do altar. Em lugar do rosto de bronze, depois de uma tílias cortadas, erigiu uma fonte. Luminosa. Como ele.
É certo que militar e intelectual é coisa que não combina e esse tal Presidente não teria em mente um dos jargões essenciais para admirar arte( não confundir a obra com o criador) mas, mesmo arrumando a inteligência para o lado, o bom senso chegaria para perceber e aceitar a História. Em vez de construir Etar’s a funcionar e alcatroar estradas serranas (evitando assim acidentes que fizeram depois correr muita tinta) o Presidente decidiu apagar memórias. Deu-se mal. Hoje, a Câmara municipal recuperou o busto e dá ao poeta a dignidade que a História lhe conferiu e -suprema das ironias- aproveitou ainda a ocasião para despedaçar umas das obras mais idiotas do presidente revisionista. Como um Shampô: 2 em 1.Verdade seja dita:foi trabalho bem feito.
Para nos precavermos de outras possíveis iluminárias que passem por S. Pedro, fica aqui uma pequena biografia de António Correia de Oliveira:
António Correia de Oliveira (1879-1960) nasceu em São Pedro do Sul e faleceu em Esposende. Estudou no seminário de Viseu, indo depois para Lisboa onde trabalhou como jornalista no Diário Ilustrado. Tendo casado com uma rica proprietária minhota, fixa-se na aldeia de Belinho, conselho de Esposende. Foi um dos cantores do Saudosismo, juntamente com Teixeira de Pascoaes e outros. Colaborou na revista A Águia, Atlântida, Ave Azul e Seara Nova. Obras poéticas: Ladainha (1897), Eiradas (1899), Cantigas (1902), Raiz (1903), Ara (1904), Tentações de S. Frei Gil (1907), Elogio dos Sentidos (1908), Alma Religiosa (1910), Dizeres do Povo (1911), Romarias (1912), A Criação. I. Vida e História da Árvore (1913), A Minha Terra (1915-1917), Na Hora Incerta (Viriato Lusitano) (1920), Verbo Ser e Verbo Amar (1926), Mare Nostrum (1939), História Pequenina de Portugal Gigante (1940), Aljubarrota ao Luar (1944), Saudade Nossa (1944), Redondilhas (1948), Azinheira em Flor (1954).