Nos últimos tempos, com a destruição e descaracterização do Bairro da Ponte, têm-se dito e escrito que deixou de existir, em S. Pedro do Sul, qualquer lugar com valor arquitectónico e que seja identificado como património de todos os Sampedrenses. Eu ouço a tese mas o seu derrotismo não me convence. De outro modo, é esse derrotismo que me faz ver que esses lugares ainda existem. Bem sei que posso parecer o Homem sem nome a divagar, mas atentem ao meu raciocínio e vejam se não tenho razão. Situemo-nos: falo do monumento colocado na rotunda do Roquivárius. Tenho ouvido todo o tipo de explicações que dão significado ao artístico calhau: um rabo de peixe, um mundo que chora, a humanidade dividida ou até um simples V de vitória. Eu cá não vou por aí. Após horas de contemplação (algumas com um copo a mais, depois de ter saído do Roque) consegui alcançar a verdadeiro mensagem do génio criador. Aquele imponente calhau representa, nada mais nada menos, um pénis que levou uma machadada. A impotência, portanto. O derrotismo que atrás falava. À sua volta, uma espécie de fonte de alimentação: 3 candidaturas à Câmara(inevitavelmente)falhadas.
Mas o local não simboliza apenas essa fraqueza consubstanciada no falo impotente. Mais do que isso, o seu enquadramento mostra-nos a forma como encaramos esse falhanço. Se por um lado existe o Roquivárius, que mostra o nosso lado bonacheirão para lidar com a mediocridade e a Rádio Lafões, que nos
paroliza a coisa, temos também a penitenciária que nos mostra o lado tenebroso da questão. Até a própria rotunda não está despida de significações. Ela representa a nossa inconsequência e a necessidade quase instintiva de vivermos à volta dessa fraqueza.
Dito isto, o Bairro da Ponte que se lixe. O IPPAR que deixe lá o Largo de S. Sebastião e venha mas é classificar esta obra do caralho como património arquitectónico.