Naquele dia chuvoso em que vasculhava as promoções da FNAC fiquei-me pelo CD do Bandido O mercado discográfico anda em baixa e os preços são exorbitantes. Mesmo assim, aquela edição que comprei era tão manhosa e barata que consegui ficar com alguns trocos no bolso. Ainda pensei guardá-los para comer um merecido hambúrguer no final de tarde, mas não consegui. Aquele ambiente consumista embrenhado dos centros comerciais fez-me dirigir instintivamente até a livraria Bertrand. Invejoso da sabedoria do Robin, quis logo comprar a Odisseia de Homero, mas...nada feito, a minha bolsa era espartana e 5 euros eram parcos para aquela edição Golden. Deixei a estante de literatura clássica e dirigi-me para um caixote, colocado mesmo no centro da livraria, cheio de livros e livrinhos já usados e a preço de amigo. Vasculho e torno a vasculhar, mas nada. Só me vinham parar à mão revistas GINA dos anos 70 e livros de poesia do Poeta Castrado(não!).Já com um cheeseburguer suculento em mente, heis que para nas minhas mãos um livreco que compilava artigos da nossa saudosa Tribuna de Lafões. O titulo: Democracia SIM, comunismo NÃO. Seu autor: José Inácio Coelho. Os artigos reportavam-se ao período de 75-76 da nossa vilória. Tratando-se de uma época histórica que me agrada, entreguei a minha nota de 5 à minha da caixa e quando cheguei a casa li-o de um só trago. Além de nós dar um chato enquadramento político da situação de então, o livro vale pelas tricas pessoais e acusações que alimenta. Para as gerações mais novas(eu incluído) que apenas têm uma vaga ideia desse tempo, deixo aqui alguns excertos dos textos mais caricatos:
“«Ora tudo isto é que é o salutar colonialismo que Portugal pratica e de que muito se tem a orgulhar»(Conferência do Dr. Gralheiro nos Paços do Concelho, durante o Fascismo).”
“«arreigado aos princípios do Estado Novo de que o sr. Dr. Jaime Gralheiro é já um ardente e fervoroso defensor..»«vincaram acentuadamente a sua formação nacionalista de que muito se orgulharam o Dr. Jaime e o seu Exmo. Pai»(notícia publicada no jornal tribuna de Lafões nº 107)”
“ Numa palestra, referindo-se ao nosso Concelho, pontificou modestamente, que « era uma lâmpada tão forte mal empregada a dar luz a uma coisa tão pequena»(tenho testemunha)”
A coisa depois continua. Fala-se de MDP’s, SUV’S, MDLP’s e afins. Os interessados que queriam ler a obra poderão requisitá-la na biblioteca municipal, porque segundo me disseram existe lá um exemplar velhinho e muito gasto.