“Eu tenho a quarta classe, mas das antigas”. Uma frase batida, mas que ainda se ouve por aí, pela boca das gerações mais velhas. E se muitas vezes ela é proferida com um certo orgulho cretino, como se aquele “mas“ atenuasse a ignorância congénita, a verdade é que ela transporta alguma lucidez. Tempos houve em que a escola se resumia a ensinar. Ia-se para lá para aprender a ler e a escrever, fazer contas e conhecer as fronteiras do império. Saiam de lá intelectuais? Provavelmente, não. Saiam cidadãos, o que já era qualquer coisa.
Já não pertenço a essa geração. Ao que parece, o 25 de Abril apareceu para democratizar esta choldra e trouxe atrelado com consigo aquelas crendices da cidadania e da escola virada para o aluno, o ensino diferenciado e o
raio c’o parta. A minha experiência pessoal confirma. No meu périplo pelo ensino secundário apanhei uma série de disciplinas inúteis com siglas indecifráveis, que iam da educação visual e tecnológica às técnicas de organização empresarial. Tudo coisas muito úteis, não fosse o caso de eu não andar a estudar para ser mecânico ou contabilista.
Mas ao que parece, desde a minha saída, o sistema já vez vários
upgrades. Agora existe uma coisa chamada
Projecto Escolar. Uma espécie de estádio final progressista, onde se ensina aos catraios a cidadania activa, o respeito pelos pretos e maricas e a separação do lixo.
Veja-se um exemplo local. O grupo do 12B da Escola Secundária de S.Pedro, no âmbito do seu projecto “S. Pedro do Sul criativo”, decidiu criar um
blog a fim de "divulgar as suas ideias e objectivos". Um primeiro sinal da falência do sistema: a malta tem ideias e objectivos, mas faltou as aulas de geografia – o projecto chama-se “S. Pedro do Sul criativo” e insere-se no projecto…Cidade criativa. Já no campo das ideias e objectivos, a coisa torna-se mais elucidativa. Ao mesmo tempo que mostram grandes preocupações universais com o tabagismo (a praga do século xxi), o grupo não tem pejo em pedir que
ASAE venha fiscalizar e encerrar a oficina em frente à escola primária. Cidadãos do mundo, vizinhos canalhas. O futuro está assegurado.