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VILÓRIA IRRISÓRIA
domingo, julho 23, 2006
 
Uma experiência terrível. Já mentalizado que ia abdicar do meu café no Roquivárius e da noite dos 80’s no Act (by the way, qualquer dia sai post sobre a boîte), fui ontem à assembleia de compartes dos baldios de Carvalhais que decidia a possibilidade de instalar novo parque eólico na serrania da freguesia. No que eu me fui meter. Quatro horas de cheiro a sovaco e a vinho Americano ensanduichado entre cantoneiros e campónias com buço. Nunca me tinha visto com tanto burro junto. E eu que já entrei na casa do Benfica, passei tardes em Figueiredo de Alva e até já arrisquei um café no Tropical. Assustador.
Assustador mas também enriquecedor. Até ontem, era um adepto fervoroso das experiências de democracia directa. Com os olhos postos nos States e no Reino Unido, sempre julguei que a coesão de pequenas comunidades, os seus pequenos interesses egoístas e a proximidade com os problemas domésticos fossem razões mais que suficientes para assegurar uma intermediação rápida, directa, sensata e responsável entre o cidadão e o poder. Azar do caralho. É o que dá não ler o Tocqville com olhos de ler. Esqueci-me de pequenos pormenores que o aristocrata Francês refere como, por exemplo, o facto dos States não terem campónios ignorantes que vivem sob o guarda-chuva do Estado ou de existir no Novo Mundo uma certa noção de Aristocracia Mentale que neste Portucale é coisa que não vale. Tudo premissas necessárias para que a jigajoga funcione. Ou como se diz por cá, para que haja um “normal funcionamento das instituições”.
Ora não sendo Carvalhais um simpático condado de Filadélfia, o que se tinha ali ontem naquela experiência de “power to the people”, era apenas multidão. Gente. Gentinha. Gentalha. Turba. Turbilhão. Gado. Gentalha que, sim senhora, sabe discutir futebol e outros coisas que envolvam paixão, senso comum e dispensem lógica aristotélica mas que já fica a queimar neurónios para perceber o que é o goal average.
Imagine-se, portanto, a maltósia a discutir eólicas. Custos? Benefícios? Contrapartidas? Danos paisagísticos? Pois, está bem. Isso é coisa para doutores e engenheiros, grunhiam em uníssono um picheleiro bêbedo e um sardinheiro senil. Doutores e engenheiro que, fiquei a saber, neste momentos de igualdade momentânea, o povo tem especial prazer em confrontar e tratar por igual. Como é óbvio, durante os restantes dias do ano, continua a subserviência do costume(“ como está sôtor”, “ era por causa do meu filho, sôr engenheiro”).
Também especialistas em psicologia das multidões - ou o Hitler ou o Mussolini -haviam de gostar de presenciar assembleias de compartes. Era o voto de braço no ar , variável e mutável consoante a dinâmica criada, ou a vaia ou o berro que aumentava de volume quando um grunho mais exaltado dava o mote. Pavloviano. O que foi Darwin fazer às galápagos para estudar a bicharada? Uma ida a uma assembleia de compartes chegava-lhe para provar que a espécie humana descende dos macacos.
Mas não se julgue que estas reuniões se resumem a actos instintivos e animalescos. Não. Há momentos quase litúrgicos. Descobri que a turba tem uma relação sagrada com aquilo a que ela chama a “obra”. Um espécie de revelação divina com reminiscências pagãs. Tal como com Deus, o bom povo não lhe consegue captar a sua total essência. Não a sabe explicar mas acredita - oh se acredita - piamente na “obra”. Eles querem “obra” seja lá ela uma estrada para um ermo ou um fontanário ao pé do rio. É que se Nosso Senhor lhes abre as portas do paraíso, a “obra” dá-lhes, ouvi eu, o “progresso”. Uma verdadeira epifania.
Mas é óbvio que ignorância e psicologia não podem explicar tudo. É certo que Carvalhais tem o Vilarinho, o João do Cachamuço e a malta do PS que, todos juntos, davam para organizar o Labrego love to Dance 2007 e ainda fundar um núcleo do Bloco de Esquerda. Mas que porra, apesar de consciência de classe, os grunhos não têm especial apetência por energias renováveis nem possuem ímans intra-estomacais que os une sempre que há um ajuntamento. Coincidência ou não( é claro que não), 2/3 daquela gente eram Robots Adrianux STPX 2007, versão 3.4: a professorita com cunha, o canalizador bebedolas, o gajo do rendimento mínimo que trabalha no centro, o licenciado em engenharia do papel que está na contabilidade, mulherzinnhas da cantina e outros autómatos.
Com tal arregimento, ainda que com alguns a chatear com conversa de “doutor e engenheiro”, o professor decidiu resolver a coisa pela socapa. Preferiu não por lá as patinhas. Sem dignidade nem tomates para tomar partido na contenda que criou. Como é óbvio, as eólicas passaram.
Três palavras bastavam para dar voz à trailer deste filme: Ignorância, multidão e Tacho. Numa Assembleia perto de si. Espere-se, no entanto, pelas próximas sequelas. Normalmente as comédias têm um final feliz.
 
"Muitas realidades fazem parte das nossas necessidades básicas" António Carlos Fiqueiredo. Um blog de S. Pedro do Sul. Comentários, críticas, acareações e donativos para viloriai@hotmail.com
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